(vide ficheiro PDF em partilha) LEITURA OBRIGATÓRIA
Os sítios das internet da SL Benfica Futebol SAD, Sporting CP Futebol SAD e FC Porto Futebol SAD disponibilizam os seus relatórios e contas (R&C), completos e com as respetivas certificações legais das contas consolidadas. Recomenda-se a sua consulta.
Disclaimer:
Não obstante o esforço pessoal na produção de um trabalho objetivo, cumpre informar
que sou adepto sportinguista. Se, porventura, algum leitor considerar que alguma
parte da análise está ferida de subjetividade clubística, tem natural direito
em pronunciar-se, apesar de considerar, à partida, não haver razão para tal.
Quando aos números em si, DESTACAM-SE cinco situações para mim relevantes:
1. Esta análise abrange as SAD e não os respetivos clubes, accionistas maioritários destas SAD. Considerando a abundância de saldos e operações existentes entre o grupo de cada SAD e as entidades fora desse grupo (incluindo o clube), convinha conhecer as contas consolidadas dos clubes, mas infelizmente estas não são publicitadas. Conforme já referido noutro artigo deste blog [link], os clubes são entidades coletivas de utilidade pública (?), logo não são obrigadas a prestar contas publicamente, nem a disponibilizá-las nos seus sites institucionais. E não são os únicos no “mundo do futebol” a (não) fazê-lo, conforme refiro no mencionado artigo. Sem essa informação publicamente disponível e no formato apresentado pelos seus autores (os clubes), vergamos a nossa perceção da coisa à informação veiculada pelos jornais desportivos e comentadores da bola, que são tudo… menos isentos. Mas, pensando bem, é mesmo essa a intenção, ou não?
2. O facto mais evidente, em
termos económicos, é talvez o mais publicitado e provavelmente do conhecimento geral. Todas
as SAD possuem uma situação patrimonial líquida débil e enquadrada no art.º
35.º do Código das Sociedades Comerciais (em que mais de metade do capital social está perdido), sem que os respetivos R&C
evidenciem medidas objetivas e concretas quanto à resolução da situação. Ressalve-se
que a gravidade da situação varia de SAD para SAD. Tal constatação e a
ligeireza com que se aborda o tema no espaço mediático relega-nos para a
infeliz constatação de que estas entidades do futebol pertencem a uma categoria
semelhante aos bancos, ainda que por motivos diferentes (de vertente mais psicológica que económica), sendo consideradas pelo público em geral como “demasiado
importantes para cair”, até ao dia… em que cair a primeira.
3. Outro facto evidente, mas cujo grau pode ser encarado de várias
perspetivas diferentes e estar sujeito às tais parcialidades clubísticas na sua análise, prende-se com a
situação financeira. Salvo melhor opinião, a Sporting CP Futebol SAD apresenta
a situação mais aliviada no curto prazo, fruto da recente renegociação efetuada
com os bancos (por todo o Grupo Sporting), apesar de se tratar de uma estabilidade a prazo
determinado (10 anos). Neste aspeto, a SL Benfica Futebol SAD e a FC Porto
Futebol SAD carecem de idêntica reestruturação da dívida… se se quiserem
aguentar nas próximas épocas. Esta última SAD terá talvez a maior dificuldade
em concretizar esse passo, atendendo à respetiva situação económica e ao enorme
défice operacional que perspetiva (novamente) para a época em curso e,
eventualmente, para as subsequentes. Trata-se de uma questão de fôlego financeiro, para colocar a casa em ordem e (sugiro eu) adaptá-la à dimensão do futebol nacional, sem negligenciar a participação nas competições europeias.
4. As
pesadas estruturas de gastos das SAD, grosso modo, fazem com que o sinal positivo
ou negativo do resultado de cada exercício dependa, principalmente, das mais valias das vendas
de direitos desportivos de atletas (ativos intangíveis) e da participação na Liga
dos Campeões (pelas receitas diretas e indiretas que gera). A principal
componente dos encargos de cada SAD respeita aos gastos com o pessoal (diretos
e indiretos, designadamente as amortizações dos direitos desportivos dos
atletas), sendo que neste aspeto a FC Porto Futebol SAD surge em primeiro lugar
com 107,3 M€ de gastos, a SL Benfica Futebol SAD surge em segundo lugar com
98,2 M€ de gastos e, finalmente, a Sporting CP Futebol SAD com 58,2 M€ de
gastos. Poderá colocar-se em causa a razoabilidade dos maiores valores, dentro
do contexto do futebol português (ou não)?
5. Não querendo explorar muitos dos
aspetos concretos focados nos comentários ao quadro comparativo partilhado no
ficheiro acima, finalizo este resumo com um destaque àquele que considero ser,
porventura, o dado mais curioso da análise, atendendo à grande
incerteza no futuro desportivo (e consequentemente económico-financeiro)
destas SAD – o plantel de atletas profissionais. No final da época de 2015/2016, a SL Benfica Futebol SAD possuía um
plantel profissional com 80 jogadores valorizados, no valor líquido de 115,2 M€,
e 33 jogadores não valorizados (oriundos da
formação, provavelmente). A FC Porto Futebol SAD
possuía um plantel profissional com 69 jogadores valorizados, no valor líquido
de 90,6 M€, e 16 jogadores não valorizados (oriundos da formação,
provavelmente). Na mesma data, a Sporting CP Futebol SAD possuía um plantel
profissional com 40 jogadores valorizados, no valor líquido de 32 M€, e 58
jogadores não valorizados (oriundos da formação, provavelmente). Isto sim pode
dar origem a interpretações pessoais, logo não dou a minha, não obstante
considerar que está aqui um indicador relevante acerca das perspetivas futuras
de cada SAD. Porque esta é a "mina" de cada SAD.
muito obrigado pelo artigo, gostei especialmente do ponto 5. E gostava (embora desconfie qual seja) de saber a tua opiniao.
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